Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2009

Primeira carta à Susana: do país dos sonhos de pedra

Depois de dez anos , saio deste teu país feito de pedra e memória. E tudo o que tenho são sessenta euros na minha conta bancária e alguns livros, entre eles "O medo" de Al Berto, que esteve sempre ao meu lado durante a viagem. Apesar disto, ou por causa disto, nunca me senti tão rico na minha vida. É preciso que eu te diga agora duas coisas: és o enigma mais vertiginoso que trago tatuado no hemisfério interno do coração; e sim, eu também te amo.

Dos territórios

Não há um único território onde eu me sinta confortável. Talvez seja esta, e não outra, a condição que me faz reflectir sobre o estado das coisas. Depois de dez longos anos deixo Lisboa definitivamente, e este advérbio cabe aqui em todo o seu significado. Voltar a escrever noutra terra, de onde posso, daqui desta janela, observar o curso discreto do rio Arga, é para mim um privilégio recuperado. Algo que me reconduz à fantasia necessária que me ajuda a pensar que sim, que há algum lugar no mundo onde eu possa me sentir seguro. Fantasias servem para isso. Uns as compram nas agências de viagens que prometem sonhos no deserto ou num spa em Hammamet, outros as compram a um dealer na esquina escura mais próxima, ao preço de mercado, e outros à prazo em qualquer loja de centro comercial. A minha fantasia custa-me um pouco mais cara, e não me garante grandes coisas - mas não sei viver sem ela: a escrita. Por isto, dou-me a mim as boas-vindas, neste território movediço e inseguro que é a escri