Mensagens

A quarentena

Imagem
Na verdade sempre fantasiei que voltaria a escrever neste blogue movido por um tema que se relacionasse com alguma paixão avassaladora - dessas que me atingiam em cheio no coração quando vivia em Lisboa - e que me obrigaria a buscar a poesia como o sedento a água. E escrever era a minha água de então. Mas não é nada disso. A escrita agora cumpre com outra função. Mas qual é? Escapar do confinamento? Isto eu faço com a leitura e vendo Drácula na TV. Comunicar-me com os outros expondo as minhas ideias e opiniões sobre a realidade que nos cerca? Isto nunca fiz, nem tenho o talento exigido. Então, o que me resta? Não sei. Mas intuo, e esta coisa de intuir já leva em si mesma alguma forma de conhecimento, que escrevo simplesmente pelo ato de escrever. Somente isto, nada mais. Encadear uma palavra atrás da outra e, neste processo, onde pervertemos as ferramentas que foram inventadas pelos fenícios para contabilizar os impostos, descobrir, maravilhados, que alguma história pode surgir

Selva oscura

Imagem
Ahi quanto a dir qual era è cosa dura esta selva selvaggia e aspra e forte che nel pensier rinova la paura!... É o céu de São Paulo que "anoiteceu" antes do previsto no dia 20 de agosto passado. De selva de pedra à selva escura. "Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate", leu Dante às portas inferno.

Outono

Imagem
Era outono e era Lisboa...

Lapidum natura restat, hoc est praecipua morum insania.

Imagem
“ Lapidum natura restat, hoc est praecipua morum insania …” Gaius Plinius Secundos. “ Ancestral l â mina de obsidiana ” , o primeiro verso que te vem à cabe ç a nesta indecisa tarde em que caminhas distra í do. Outono à porta, a vida segue o seu curso com a exibi çã o televisiva de distantes e pasteurizadas trag é dias com nomes ex ó ticos, sempre à justa medida para n ã o perturbar a tua consci ê ncia conformista. “ Ancestral l â mina de obsidiana ” , verso sem continua çã o, passaporte para fingires que participas na eternidade matem á tica das coisas, desde a palavra ainda abismo ao baile silencioso das esferas. “ Ancestral l â mina de obsidiana ” , senten ç a e aviso:                                                                                como quando encontras o p á ssaro morto que te devolve à transitoriedade do mundo e buscas, aflito, a trajet ó ria do seu ú ltimo canto; e tentas modelar com as m ã os o barro onde assentar um novo l é xico par

Esfinge

Imagem
Não há perguntas. Selvagem o silencio cresce, difícil.                         De “Rosácea”, 1986. Orides Fontela

Quase dezessete

Imagem
“Vous êtes amoureux. Loué jusqu’au mois d’août.” A. Rimbaud Ali me encontro, aos dezesseis anos, quase dezessete, prisioneiro de uma felicidade aprazada, desafiante, sem saber que a mirada carregada de futuro que captava aquela câmera, chegaria certeira ao presente do meu coração.

Naharros de Valdunciel (Salamanca)

Imagem
“Este blogue é mais forte do que eu”, talvez assim começasse este texto Clarice Lispector se vivesse, como nós, na era digital. Na verdade nem sei porque ainda mantenho o Finisterra. Talvez por esperança de um dia voltar a ele como fazia nos idos entre 2004 e 2007. Naquela época, este blogue era o porto mais seguro para alguém que vivia à deriva nas emoções de uma vida entre Lisboa e Túnis. Já tentei recomeçá-lo várias vezes e nunca o consegui de todo. Esta será outra tentativa, um pouco por conselho de amigos e alunos, outro tanto porque será um ano inteiro de uma viagem que se propõe à volta do mundo. A viagem é sonho do Miguel que decidiu compartilhá-la comigo. Admito publicamente que tenho receio de me afastar tanto tempo de casa. A idade, e não o casamento, foi fazendo de mim o homem caseiro em que me tornei. A minha grande odisseia quotidiana é ir ao café perto da minha casa, ler o jornal e falar com poucos. Eu não era assim, mas me tenho simpatia. E uma viagem