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A mostrar mensagens de fevereiro, 2011

Noite Transfigurada

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É fácil descrever: estou na sala, só, compenetrado a ouvir Noite Transfigurada de Schoenberg. É inverno. Na partitura, o diálogo entre o violino e o violoncelo. Nesse instante, ele entra silencioso e cruza a sala em diagonal, liga o aquecedor e depois vem na minha direção com uma manta. Agasalha-me e em seguida sai, deixando no rasto o esboço de um sorriso. Na composição, o homem e a mulher já transfigurados pela alegria seguem iluminados através do bosque. Eu dou comigo a pensar no quão simples é a felicidade. E da plenitude da minha consciência vem o gozo e a satisfação de saber que somos habitantes transitórios nestes momentos de paz. Então, mais uma vez na vida experimento a lucidez de quem, em regozijo, observa de um ponto fixo fora do universo, a alegria invadir um coração desatento.

Adagio un poco mosso

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O inverno entra pela janela como um dardo de luz, interceptando o curso da nossa conversação. E sobre o cenário de uma mesa parecida a uma terra devastada com restos calcinados de carne em pratos brancos com vestígios em verde e escarlate, sorvemos o último traço do vinho comprado na promoção de algum supermercado da Europa, enquanto que do telejornal nos chega a notícia da revolução no Egito. Então, uma nova espécie de indecência que antes não tinha este nome, surge - do fundo à superfície da nossa consciência - com a precisão de dezoito límpidas notas, trazendo-nos a noção de que usurpamos o privilégio de alguém. E ao estabelecermos um novo paradigma para a comparação das coisas que se movem abaixo do sol, concluímos, envergonhados, do caro que pode custar um vinho em promoção, e de quanto os nossos prazeres mesquinhos nada significam para aqueles que decidem desventrar a máquina do mundo, mostrando-nos a sordidez das suas entranhas.

Про Это, про Поэта и про Лилю Брик

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Про Это, про Поэта и про Лилю Брик. Ah, essa gente do Egito que reacende em nós o amor pela revolução e pela poesia. Se é verdade que não há mais distância física na terra, também não havera afastamentos de outra natureza. Por isso chamamos aqui Maiakóvsky e Lília, para dançar connosco na Praça do Mundo.

Ang laro ng buhay ni Juan

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Às vezes saímos do cinema com um soco no estômago, uma maneira inesperada de chorar e as nossas convicções humilhadas. E apressados, pensamos que o que queremos desta vida é um pouco de amor, e que nos mentem quaisquer sistemas que nos digam o contrário - reflectimos - enquanto cruzamos a rua sob a chuva de inverno. E vamos para casa com uma ideia inexplicável de protecção. Mas no dia seguinte pela manhã, os nossos diplomas e carreiras, nossas três refeições ao dia e até as nossas vaidades mais secretas não nos valem quando, inesperadamente, no espelho da casa de banho, um estranho nos mira do outro lado do reflexo e nos adverte, implacável: - Neste mundo de ignomínia, não tens vergonha dos teus privilégios?