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A mostrar mensagens de janeiro, 2010

«Troveremo i resti di Caravaggio»

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Na noite do dia 29 de Maio de 1606 Caravaggio matava (por acidente?) o jovem Ranuccio Tomassoni depois de uma discussão por motivo banal. Não era um homem fácil e já se tinha envolvido em outras confusões antes. Desta vez não lhe valeram os seus protectores e Caravaggio, procurado pela polícia, teve de abandonar definitivamente a sua amada Roma. Mais de 400 anos depois, e por motivos outros, uma equipa de investigadores ainda busca Caravaggio, ou o que dele resta nuns controversos ossos encontrados no antigo cemitério de Porto Ercole na Toscana. Michelangelo Merisi, detto Caravaggio, nunca pertenceu ao século XVII, ele é criação do nosso século XX, essa máquina de incoerência a todo o vapor, essa usina nuclear plantada entre as flores do nosso jardim. Sentimos muito, Caravaggio, mas ainda por alguns séculos mais iremos estar ao teu encalço. A ferida que plantaste em nosso entendimento segue aberta como uma boca que indaga, e que quer respostas.

מזל טוב

Subiu no autocarro em LLeida, às 05h00 de uma tarde de Inverno. Vestia com simplicidade elegância. Era alto, magro e usava óculos de armação leve. Sentou-se no banco à minha frente. Meia hora depois, o seu telefone tocou. Uma tal de Sandra chamava-lhe e ele, falando num castelhano com sotaque, agradeceu a chamada e disse-lhe que se ia embora para a França, que lá tinha amigos e um possível emprego. Desligou, não sem antes dar o seu número francês para a rapariga do outro lado da chamada. Pensei: deve ser brasileiro, libanês ou turco. Não era. Na primeira parada, desceu e fumou um cigarro. Voltou ao autocarro e quando este já partia, tirou uma sandes da bolsa e começou a comer. Mordia como quem morde a raiz das coisas. Pensei: de todos nós aqui, ele é talvez o único que vai, nós de alguma maneira voltamos para as nossas casas, este homem não, está indo, em frente, com a sua mala, sozinho em direcção a França. Adormeci. Tempo depois o seu telefone tocou novamente, e desta vez ele falou

En Lixboa sobre lo mar, 2010

Não gosto de fazer promessas a mim mesmo. Sou por de mais sonhador e, salto facilmente a raia do bom senso, que é aquele espaço do realizável. Mas também gosto de sonhar o impossível, e correr atrás dele, sobretudo politicamente falando. Não gosto de datas religiosamente estantardizadas tipo Natal, Yon Kippur e o Ramadão... mas admiro as pessoas que as tenham e as observam. As minhas datas são todos os dias, e portanto, desejar o futuro passa a ser para mim um exercício do presente, com todas as implicações que esta atitude possa ter, como por exemplo, não ser possível realizar, ou realizá-lo para além das minhas espectativas. Começar o ano assim, com a consciência de que tem sido assim. 2009/2010/2011 é já e agora.