Vi o programa (as 6 partes) até ao final (e digo vi porque fora do traduzido nas entrevistas pouco percebi, mas desse pouco achei fascinante.
Tenho para aí uma matéria pendente com a filosofia, que me aborrecia mortalmente no liceu, nas aulas das 4 da tarde, a combater o sono da lengalenga do professor. Está na hora de recuperar o tempo perdido.
E agora, fiquei sabendo que talvez não vou escrever muito já, mas sempre será demais. É difícil saber quando a gente deve parar: isso é privilégio de mentes lúcidas.
Ler um autor francês traduzido na tua língua e encontrar a palavra "transverberación", usada para descrever os estados de euforia mística de uma Teresa que passou por aqui, e que julgou ter sido o seu coração mordido como se fosse uma fruta pela fome insaciável de um deus sem face. E eu, sem nenhum acessório místico, vejo, nessa cidade de pedra que rechaça o vegetal, as minhas palavras morrerem sob o sol do meio-dia como se fossem peixes sem esperanças. Turistas desavisados procuram a fachada da famosa universidade e eu quero fugir. Na esquina da "Calle Calderón de la Barca", uma parreira ancestral tenta abraçar, com alguma relutância, um prédio. Sigo adiante sem nenhuma ferida no coração e a algiberia plena de palavras desconexas, como se um poema ali estivesse a tilintar em cópias de moedas persas com o rosto triste de Tisafernes. O poema não vem, e eu quero somente respirar.
Já lá estamos nos 28 dias transcorridos do novo ano. 2010 praticamente não existiu para mim aqui no blogue, mas foi um ano cheio de transformações, das que ainda não reflecti muito bem o seu alcance. Voltar a escrever com regularidade não prometo, que isso de prometer coisas e não cumprir tem sido o meu talento secreto. Mas que falta sinto da escrita, isto sim é uma verdade que me dou conta. Também tenho de admitir: quando não tenho nada para dizer, nada é exactamente o que faço, outro talento secreto, recentemente descoberto.
Segunda “Sinfonia da Guerra”, a 8ª Sinfonia de Shostakovitch compõe um imenso oratório sem palavras sobre o terror e a morte, escreve Barbier. Foi composta no final do Verão em 1943. Shostakovitch dedicou-a a Mravinsky, que regeu a estreia de nada menos que seis das quinze sinfonias do compositor. Na minha opinião, Shostakovich, Mravinsky e a Filarmónica de Leningrado compunham um único corpo, vigoroso e vibrante. Se a razão desse corpo podemos identificar com o compositor, não nos resta a menor dúvida de que o coração de toda essa harmonia morava nas mãos e na face de Yevgeny Mravinsky, que fez pulsar a histórica orquestra de 1938 até 1988. Não sei o que se passa comigo, que volto à obra de Shostakovitch com novas perguntas na cabeça, e com uma espécie de emoção renovada.
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Tenho para aí uma matéria pendente com a filosofia, que me aborrecia mortalmente no liceu, nas aulas das 4 da tarde, a combater o sono da lengalenga do professor. Está na hora de recuperar o tempo perdido.
E agora, fiquei sabendo que talvez não vou escrever muito já, mas sempre será demais. É difícil saber quando a gente deve parar: isso é privilégio de mentes lúcidas.