O outono parece ter encontrado o seu curso decisivo e anuncia o tempo de recolha verbal onde as palavras buscam, na economia dos gestos, as linhas transparentes que marcam os limites entre a ontologia das coisas: a árvore, ou o que dela resta, se confunde na paisagem morta das folhas no seu encontro com o rio. Esse é o mundo lá fora, um teatro sem clímax. Aqui dentro o espectáculo é outro, e como gosto de te ver movimentar as plantas pela casa como se fosses um meticuloso botânico da Mesopotâmia, à espera de mais um pedido para embelezar os jardins suspensos de Nabucodonosor II. Fico quieto, e enquanto me detenho nos teus olhos castanhos, investigo que espécie de fio condutor fez encontrar as nossas histórias. E por um momento, percebo que não preciso justificar a minha felicidade. Há um vento forte lá fora, e tu vais à cozinha a preparar-nos um chá.
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