Adagio un poco mosso





O inverno entra pela janela como um dardo de luz, interceptando o curso da nossa conversação. E sobre o cenário de uma mesa parecida a uma terra devastada com restos calcinados de carne em pratos brancos com vestígios em verde e escarlate, sorvemos o último traço do vinho comprado na promoção de algum supermercado da Europa, enquanto que do telejornal nos chega a notícia da revolução no Egito.



Então, uma nova espécie de indecência que antes não tinha este nome, surge - do fundo à superfície da nossa consciência - com a precisão de dezoito límpidas notas, trazendo-nos a noção de que usurpamos o privilégio de alguém. E ao estabelecermos um novo paradigma para a comparação das coisas que se movem abaixo do sol, concluímos, envergonhados, do caro que pode custar um vinho em promoção, e de quanto os nossos prazeres mesquinhos nada significam para aqueles que decidem desventrar a máquina do mundo, mostrando-nos a sordidez das suas entranhas.

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Que saudades de te ler... nem imaginas quanto... e... continuas o mesmo... um grande abraço!

Paulo Dionísio

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