Revisitada


Na Pastelaria Cister, em Lisboa, 8 de Novembro de 2013
 
Este é um daqueles momentos em que parece que sempre tem sido assim: o pequeno-almoço na pastelaria do bairro, como se não houvesse interrupção entre 2009 e 2013.
Revisitar Lisboa é sempre uma experiência gratificante. E devo admitir que cheia de sentimentos contraditórios também.
Aos primeiros momentos de euforia do reencontro, segue-se uma leve sensação de angústia por histórias que não se concretizaram, e uma melancolia de ante-sala, de espera onde o passar lento das horas intensifica secretamente o germe da tristeza que trazemos plantado no mais íntimo. Lisboa segue sendo o coração enrugado do pêssego, fruto do qual ainda se alimenta a minha escassa poesia.
Já sentia saudades da discrição portuguesa, que desconfio ser uma espécie de timidez misto de formalidade, e do eterno receio de ser provinciano na Praça do Mundo.
Gosto do meu bairro que tem nome de Bairro, destinado desde a sua fundação a ser novo, a ser alto e mestiço. Um grande painel humano de gramáticas que se inter-relacionam, onde é perfeitamente natural um galego baixar da sua casa e comprar manga do Brasil na mercearia paquistanesa que há embaixo, e enquanto o faz, ouve saindo de uma das janelas uma canção que fala de “sodadi dess’mia terra San Nicolau."
 Atrai-me em Lisboa esta “coisa de teatro” de que já falou Sophia num dos seus poemas. Mas de um teatro para fora. Esta sensação de que algo pode te acontecer ao virar a esquina: um reencontro inesperado, um desgosto ou alegria desses que compõem a comédia do quotidiano de que ninguém escapa.
Amo e odeio esta cidade de igual maneira. E assumo que é esta, e não outra, a natureza da nossa relação, do nosso amor enfim.

 

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