Naharros de Valdunciel (Salamanca)
“Este blogue é mais forte do que eu”, talvez assim começasse este texto
Clarice Lispector se vivesse, como nós, na era digital. Na verdade nem sei porque
ainda mantenho o Finisterra. Talvez por esperança de um dia voltar a ele como
fazia nos idos entre 2004 e 2007. Naquela época, este blogue era o porto mais
seguro para alguém que vivia à deriva nas emoções de uma vida entre Lisboa e Túnis.
Já tentei recomeçá-lo várias vezes e nunca o consegui de todo. Esta será
outra tentativa, um pouco por conselho de amigos e alunos, outro tanto porque
será um ano inteiro de uma viagem que se propõe à volta do mundo.
A viagem é sonho do Miguel que decidiu compartilhá-la comigo. Admito publicamente
que tenho receio de me afastar tanto tempo de casa. A idade, e não o casamento,
foi fazendo de mim o homem caseiro em que me tornei. A minha grande odisseia
quotidiana é ir ao café perto da minha casa, ler o jornal e falar com
poucos. Eu não era assim, mas me tenho simpatia. E uma viagem longa, como
sabemos, permite muitas personagens.
Toda grande viagem começa por dentro, pelo que está mais próximo
invisibilizado pelas ferramentas do quotidiano. Ainda antes de sair de Espanha,
mas já longe de Pamplona, sinto falta da desordem dos meus livros de cabeceira, do
primeiro café tomado no trabalho um pouco antes da chegada dos meus alunos e da
insistência dos sinos do convento ao lado… e ainda nem estamos em França.
- é caso para dizer que toda viagem é, em si, um exercício de saudade.
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Um abraço!