Vi o programa (as 6 partes) até ao final (e digo vi porque fora do traduzido nas entrevistas pouco percebi, mas desse pouco achei fascinante.
Tenho para aí uma matéria pendente com a filosofia, que me aborrecia mortalmente no liceu, nas aulas das 4 da tarde, a combater o sono da lengalenga do professor. Está na hora de recuperar o tempo perdido.
E agora, fiquei sabendo que talvez não vou escrever muito já, mas sempre será demais. É difícil saber quando a gente deve parar: isso é privilégio de mentes lúcidas.
Ler um autor francês traduzido na tua língua e encontrar a palavra "transverberación", usada para descrever os estados de euforia mística de uma Teresa que passou por aqui, e que julgou ter sido o seu coração mordido como se fosse uma fruta pela fome insaciável de um deus sem face. E eu, sem nenhum acessório místico, vejo, nessa cidade de pedra que rechaça o vegetal, as minhas palavras morrerem sob o sol do meio-dia como se fossem peixes sem esperanças. Turistas desavisados procuram a fachada da famosa universidade e eu quero fugir. Na esquina da "Calle Calderón de la Barca", uma parreira ancestral tenta abraçar, com alguma relutância, um prédio. Sigo adiante sem nenhuma ferida no coração e a algiberia plena de palavras desconexas, como se um poema ali estivesse a tilintar em cópias de moedas persas com o rosto triste de Tisafernes. O poema não vem, e eu quero somente respirar.
Já lá estamos nos 28 dias transcorridos do novo ano. 2010 praticamente não existiu para mim aqui no blogue, mas foi um ano cheio de transformações, das que ainda não reflecti muito bem o seu alcance. Voltar a escrever com regularidade não prometo, que isso de prometer coisas e não cumprir tem sido o meu talento secreto. Mas que falta sinto da escrita, isto sim é uma verdade que me dou conta. Também tenho de admitir: quando não tenho nada para dizer, nada é exactamente o que faço, outro talento secreto, recentemente descoberto.
“Este blogue é mais forte do que eu”, talvez assim começasse este texto Clarice Lispector se vivesse, como nós, na era digital. Na verdade nem sei porque ainda mantenho o Finisterra. Talvez por esperança de um dia voltar a ele como fazia nos idos entre 2004 e 2007. Naquela época, este blogue era o porto mais seguro para alguém que vivia à deriva nas emoções de uma vida entre Lisboa e Túnis. Já tentei recomeçá-lo várias vezes e nunca o consegui de todo. Esta será outra tentativa, um pouco por conselho de amigos e alunos, outro tanto porque será um ano inteiro de uma viagem que se propõe à volta do mundo. A viagem é sonho do Miguel que decidiu compartilhá-la comigo. Admito publicamente que tenho receio de me afastar tanto tempo de casa. A idade, e não o casamento, foi fazendo de mim o homem caseiro em que me tornei. A minha grande odisseia quotidiana é ir ao café perto da minha casa, ler o jornal e falar com poucos. Eu não era assim, mas me tenho simpatia. E uma viagem
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Tenho para aí uma matéria pendente com a filosofia, que me aborrecia mortalmente no liceu, nas aulas das 4 da tarde, a combater o sono da lengalenga do professor. Está na hora de recuperar o tempo perdido.
E agora, fiquei sabendo que talvez não vou escrever muito já, mas sempre será demais. É difícil saber quando a gente deve parar: isso é privilégio de mentes lúcidas.